Em parceria com o Institut français du Portugal, a antropóloga francesa, Nastassja Martin, vem a Portugal dar uma conferência sobre o seu livro Acreditar nas Feras, no dia 19 de setembro, às 19:00, na Culturgest, em Lisboa.
A conferência é seguida pela projeção do filme Tvaïan, de Mike Magidson e Nastassja Martin, pelas 21h30 no Pequeno Auditório
Os eventos são de entrada gratuita (mediante levantamento de bilhete meia hora antes).
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«Uma exploração fascinante e ambiciosa do animismo e da fronteira entre humano e animal.» John Self, The Guardian
«Um livro surpreendente de metamorfoses, um híbrido entre antropologia e literatura, o registo de uma viagem interior e um convite ao leitor para ver o mundo de uma maneira completamente diferente.» Sophie Joubert, L’Humanité
Nastassja Martin é uma antropóloga francesa que fez as suas pesquisas junto do povo Evens, nas montanhas do Kamchatka, no extremo oriental da Rússia. Durante uma das suas estadias nesta região, um encontro inesperado e violento com um urso dá lugar a um relato político sobre o que este encontro entre o humano e o animal provoca nos modos de sociabilização das duas culturas que a atravessam — a europeia e a dos Evens.
Este relato, publicado no livro Acreditar nas Feras (2019), é uma narração poética que transmite o indizível desta experiência, tanto pelo entrelaçamento entre sonho e realidade, como pela dissolução de fronteiras entre o humano e o não humano. Ao mesmo tempo, o livro aborda questões essenciais para continuar a luta contra a extinção e a sobrevivência através do perdão e da redenção.
Ele desfigurou-a, mas poupou-lhe a vida. Ela sobreviveu para contar este esmagador embate, esta história «de um colapso e de uma ressurreição». Ela carregará para sempre consigo a marca da fera, ao tornar-se, segundo os Evenos, uma miedka, uma criatura habitada pelo espírito do animal e que vive entre dois mundos cujas fronteiras se estilhaçaram. Relato construído ao ritmo das estações do ano, do qual não está ausente a dimensão política — a «guerra fria» entre Leste e Ocidente, travada no corpo de uma mulher, em intermináveis cirurgias e pernoitas em hospitais russos e franceses —, Acreditar nas Feras questiona assim uma humanidade que, no ensejo de tudo normalizar e controlar, esqueceu uma ligação ancestral.
Numa parceria com o Institut français du Portugal, Nastassja Martin apresenta uma conferência a partir deste livro e das suas investigações atuais em diálogo com Cristina Brito, professora associada do Departamento de História da Universidade NOVA de Lisboa e investigadora integrada do CHAM — Centro de Humanidades.
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A conferência é seguida pela projeção do filme Tvaïan, de Mike Magidson e Nastassja Martin.
Em 1989, após a queda da União Soviética, Daria, a chefe do clã Even, decide deixar a sua aldeia e voltar a viver na floresta com os seus cinco filhos. Viajando pelas florestas profundas de Kamchatka, Mike Magidson e Nastassja Martin vão ao seu encontro. Através de uma experiência cinematográfica íntima da sua vida quotidiana, revelam o destino extraordinário desta família que encontrou uma resposta para o colapso de um sistema político, reavivando as suas ligações animistas com os seres e elementos naturais.
O filme conta a história da luta de uma mulher para dar à sua família uma vida melhor e mais estável, apresentando-lhes o mundo que os seus antepassados foram obrigados a abandonar. Uma viagem íntima ao coração de uma das florestas mais remotas do planeta. Perante o atual momento histórico, em que a relação da humanidade com o ambiente entrou em crise profunda, Tvaïan convida a contemplar as diferentes possibilidades de reconciliação com a natureza.
Sobre Nastassja Martin
Nastassja Martin (n. Grenoble, 1986) estudou Antropologia na École des hautes études en sciences sociales, onde completou a sua tese de doutoramento sob a orientação de Philippe Descola. Elegeu como áreas de estudo o animismo e as cosmologias do Extremo Norte, que atestam a perenidade de relações com a natureza desconhecidas da modernidade ocidental. Realizou trabalho de campo e viveu entre povos ameaçados pela exploração da terra e dos recursos minerais: os Gwich’in, no Alasca, e os Evenos, na península siberiana de Camecháteca, cujas línguas aprendeu. Entre glaciares e vulcões, ouviu o apelo da vida selvagem e desde então escreve «a respeito dos confins, da margem, da liminaridade, da zona fronteira, do entre‑dois‑mundos; acerca desse lugar tão especial onde assumimos o risco de nos alterarmos, de onde é difícil regressar». É autora, entre outras obras, de Les âmes sauvages — Face à l’Occident, la résistance d’un peuple d’Alaska (2016).
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