quinta-feira, agosto 22, 2024

Filme: O Mundo de Ontem: quando parecia tudo perfeito

 Entre o thriller e o drama de época, esta misteriosa jóia da República Checa conta a história de uma mulher grávida que descobre o cadáver de um bebé intersexo na fábrica do marido.


O Mundo de Ontem. estreia, em exclusivo, na Filmin a 5 de Setembro.

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O realizador checo Matej Chlupacek participou em Karlovy Vary com este drama de época que aborda a intersexualidade e a transexualidade nos anos 1930.

A Filmin estreia a 5 de Setembro, em exclusivo em Portugal, o drama de época checo O Mundo de Ontem, realizado por Matej Chlupacek (“O Comité”), que competiu na secção oficial do Festival de Karlovy Vary. O filme recebeu 12 nomeações para os Czech Lion Awards, os prémios anuais da Academia Checa para o cinema e a televisão, e passa-se em 1937.

O filme conta a história de Helena que está prestes a dar à luz e enfrenta um futuro promissor numa cidade moderna, como esposa de um jovem e bem sucedido gerente de fábrica. Todas as suas ilusões são rapidamente desfeitas quando o cadáver de um bebé intersexo recém-nascido aparece no meio da sua fábrica e ela descobre o que aconteceu, deparando-se com os seus próprios preconceitos. 

O Mundo de Ontem inspira-se em várias fontes. Em primeiro lugar, baseia-se numa história verídica que teve lugar num tempo e lugar diferentes, mas que tem os mesmos elementos que este filme. Além disso, o realizador Matej Chlupacek fala de dois livros como inspiração: A ideia principal para o filme veio de um livro do Professor František Hájek, que é referido no filme. Foi publicado em 1937 e foi o primeiro livro a explorar a intersexualidade, pela primeira vez na República Checa e talvez em toda a Europa. O segundo livro inspirou o título internacional do filme, “We Have Never Been Modern”: É baseado num livro de Bruno Latour, um famoso antropólogo francês que escreveu um livro chamado We Have Never Been Modern na década de 1990. É sobre o choque entre a modernidade e a velha natureza. É muito interessante. Contactámos Bruno Latour e a Universidade de Harvard, que publicou o livro, para lhes perguntar se podíamos dar o seu nome ao filme. Latour leu o guião e disse que sim. Infelizmente, morreu duas semanas depois. Por isso, estava tudo bem, podíamos usar o título, mas ele faleceu antes de poder ver o filme terminado”, recorda Chlupacek.

O choque entre o velho e o novo define o tema do filme, que reflecte a forma como a transexualidade e a intersexualidade eram tratadas nos anos 30, uma época que o realizador considera muito semelhante à atual: “Penso que chegámos a um ponto em que temos tudo. Estamos muito, muito bem. Há uma guerra na Ucrânia, mas a nossa vida social não é fortemente influenciada por ela. É muito semelhante à época do filme. As personagens vivem uma vida cor-de-rosa, tudo é ótimo. A arquitetura é moderna, são muito ricos e, basicamente, podem dar-se ao luxo de ter qualquer capricho. Mas não sabem que dentro de dois anos estarão mortos ou terão de reestruturar toda a sua vida, explica, referindo-se à eclosão da Segunda Guerra Mundial em 1939.

A comunidade trans foi uma forte inspiração para o filme, intervindo na escrita do guião e até na reescrita do seu final. Além disso, uma das suas personagens, Saša, é interpretada por um homem trans, Richard Langdon, que nem sequer era ator antes de participar n'O Mundo de Ontem: Sabíamos que queríamos alguém trans para interpretar Saša. Mas não há actores reais na República Checa ou na Eslováquia que sejam trans. Por isso, tínhamos de encontrar alguém que não fosse ator. Pesquisámos no Google e descobrimos o Richard, um assistente social que oferece ajuda psicológica a pessoas na mesma situação que ele. 


Obcecada com a luz está disponível na plataforma 5 de setembro.  

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